Economia global vive a maior transformação em 40 anos – e o Brasil, hein? – UOL Economia
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Carlos Juliano Barros, 38 anos, é jornalista e mestre em Geografia pela USP. Há anos vem se dedicando à cobertura de temas relacionados ao mundo do trabalho. Nessa área, já dirigiu quatro documentários de longa e média-metragem, selecionados para importantes festivais dentro e fora do país. O mais recente deles, “GIG – A Uberização do Trabalho” (2019), produzido pela Repórter Brasil e exibido pela Globo News e pelo Canal Brasil, foi finalista na categoria imagem do Prêmio Gabriel García Márquez. Também é criador, roteirista e apresentador do podcast “Trabalheira/Rádio Batente”, eleito pelo Spotify um dos destaques de 2020. Já colaborou para diversas publicações, como BBC Brasil, Folha de S. Paulo, Rolling Stone e The Guardian. Um dos fundadores da Repórter Brasil, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Anistias e Direitos Humanos em duas oportunidades e foi finalista do Prêmio Esso de Jornalismo.
11/10/2022 04h00
Enquanto nós, brasileiros, nos distraímos com a mais acirrada e violenta eleição desde o fim da ditadura militar, uma nova ordem econômica mundial pode estar se desenhando.
Esse debate preocupa líderes mundo afora e domina as páginas das principais publicações do planeta — a capa da última edição da influente revista britânica The Economist, por exemplo, é sobre isso.
Mas, por aqui, seguimos refém da baixaria eleitoral e da absoluta falta de projeto para o país, atormentado por uma constante ameaça de ruptura institucional patrocinada pelo próprio Presidente da República.
Essa constatação é especialmente preocupante diante de um cenário desafiador que combina diversos fatores macroeconômicos e geopolíticos: da inflação em alta à onda de nacionalismo de extrema-direita, passando pela crise climática.
O que vem pela frente pode marcar a história com tanto vigor quanto o “Estado de Bem Estar Social” das três décadas após a Segunda Guerra Mundial, que reconstruiu a economia dos países centrais, e o neoliberalismo dos anos 1980 — que desregulamentou mercados e retomou o crescimento às custas de uma impressionante concentração de renda.
É cedo ainda para cravar o que vai acontecer. Mas os sinais de mudança, e de uma reconfiguração da economia globalizada, estão por toda parte.
A pandemia desestruturou cadeias de fornecimento e provocou uma explosão de preços que os bancos centrais, como o dos Estados Unidos, tentam agora controlar com uma desesperada política de aumento de juros.
A guerra da Ucrânia colocou em xeque a base energética de toda a Europa, e sobretudo da mais forte economia do continente — a Alemanha, altamente dependente do gás russo.
Locomotiva da economia mundial até bem pouco tempo atrás, a China também dá mostras de desaceleração, ao mesmo tempo em que acena para a formação de uma aliança estratégica com Vladimir Putin, cada vez mais isolado pelo Ocidente.
Há cada vez mais pistas de que as nações, principalmente as que comandam a economia global, vão passar a cuidar de seus próprios quintais com mais atenção.
Por enquanto, o atual cenário enseja mais dúvidas do que certezas. Mas há um ponto pacífico: insistir em ideologias amarrotadas pelo tempo não vai ajudar. O caso da Inglaterra talvez seja o mais emblemático.
A atual primeira-ministra Liz Truss tentou ressuscitar o ideário de Margaret Thatcher ao propor um corte de impostos para ricos e uma maior desregulamentação econômica para reanimar a economia. Deu tão errado que a libra caiu ao menor patamar da história em relação ao dólar.
A questão, portanto, é imaginar o futuro — e não cavucar o passado. Até porque há uma série de questões cruciais a serem respondidas que dependem de soluções verdadeiramente inovadoras.
Como os governos mundo afora devem se preparar para a transição para uma economia verde, menos alicerçada em combustíveis fósseis?
Como os líderes vão lidar com o envelhecimento populacional e a crescente pressão sobre os sistemas de saúde e os regimes de Previdência?
Como os países vão conciliar o avanço da inteligência artificial com um mercado de trabalho cada vez mais polarizado entre uma minoria com bons empregos e uma maioria se virando nos 30 para pagar as contas?
Dobrar a aposta na utopia do livre mercado e do Estado Mínimo, como mostra o exemplo da Inglaterra, já não convence nem mesmo os operadores das bolsas europeias, insuspeitos de “esquerdismo”. Mas, curiosamente, é o que vem fazendo a cabeça de parcela importante do eleitorado brasileiro.
A banda da Faria Lima que pavimentou a estrada do governo Jair Bolsonaro vai dizer que, ao contrário dos países desenvolvidos, o Brasil ainda não passou pelas reformas necessárias para desinchar o perdulário e ineficiente Estado brasileiro.
Em sã consciência, ninguém nega que o país precisa atrair investimentos privados, reformular as carreiras do funcionalismo público e repensar seu sistema tributário injusto e confuso, para citar alguns exemplos. Agendas nesse sentido são bem-vindas, desde que amplamente negociadas e profundamente estudadas.
Só que estamos falando de uma questão maior, bem maior mesmo: qual é o projeto de Brasil que queremos em um mundo que tende a ser mais protecionista, mais envelhecido, mais sensível a desastres ambientais e mais influenciado pela inteligência artificial?
Assim como a premiê britânica Liz Truss, o atual governo brasileiro parece preso ao receituário dos anos 1980. Não vem dando e não vai dar certo. Por outro lado, Luiz Inácio Lula da Silva ainda precisa deixar mais claro o que pretende fazer em um eventual terceiro mandato.
O mundo está mudando, de verdade. Não podemos perder o bonde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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