Futebol e economia: 4 livros explicam a relação – Mais Retorno

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Uma Copa do Mundo em novembro, sediada por um país sem tradição alguma no futebol e localizado no Golfo Pérsico. Por mais “estranha” que possa ter sido a escolha, alguns fatores ajudam a elucidar os fundamentos econômicos por trás dos bastidores do futebol, como os livros abaixo mostram.
Expected Goals (“Objetivos Esperados”, em tradução livre), de Rory Smith, ilustra como os dados podem ser utilizados em benefício do esporte, seja para determinar o valor do passe de um jogador, a influência de um técnico sobre os resultados de seu time ou até mesmo de que forma um jogador deve chutar quando batendo um pênalti (o que justifica o trocadilho “goals” com “gols” em inglês, no título do livro). 
A partir dos anos 2000, tornou-se muito mais fácil, rápido e barato coletar dados, o que permitiu uma série de aplicações práticas para o futebol. No caso dos times europeus, não é incomum que um campeão de xadrez, um cientista de dados e um astrofísico auxiliem na tomada de decisões.
Para Smith, um clube é aquilo o que ele representa, o que se reflete inclusive na decisão de abrir o capital (IPO). Entre ganhar a taça e reduzir o endividamento, o que pesa mais?
Scorecasting: The Hidden Influences Behind How Sports Are Played And Games Are Won (“Scorescasting: as Influências Ocultas por Trás de Como os Esportes são Jogados e os Jogos Vencidos”, em tradução livre), é um livro escrito por dois apaixonados por estatística (Tobias Moskowitz, um economista da Universidade de Chicago e Jon Wertheim, um jornalista da Sports Illustrated).
Ambos defendem a tese de que o mundo dos esportes é único para se testar teorias econômicas sobre como as decisões são tomadas, haja vista a enorme quantidade de dados disponíveis, conforme já explicado anteriormente.
Como curiosidade, relatam como os times da casa ganham, desmistificando a importância da torcida organizada ou do local onde estão habituados a treinar. De acordo com os autores, pode-se dizer que a culpa é do juiz, que nem sempre é imparcial, principalmente nos momentos mais importantes do jogo. 
Percebe-se então que fenômenos como ancoragem e aversão a perdas também estão presentes onde a bola rola.
Publicado em 1994, Soccer Against the Enemy (“Futebol Contra o Inimigo”, em tradução livre) de Simon Kuper, detalha a relação entre ambos.
Trata-se de uma mistura que os países de origem latina conhecem bem. Mauricio Macri foi presidente do Boca Juniors antes de governar a Argentina enquanto Silvio Berlusconi, dono do Milan, chegou ao cargo de primeiro ministro na Itália. 
É fato que o futebol traz visibilidade. Se o país não vai bem, por que não chamar alguém que já comandou um time de sucesso para “arrumar a casa”? 
Independentemente do espectro político, todos se aproveitam de alguma forma do futebol.  Se a seleção se destaca, os governantes relaxam, deixando de lado a implementação de políticas públicas importantes, que poderiam colocar qualquer país na rota do desenvolvimento.
Para países pequenos como o Catar, que perdeu o jogo de abertura para o Equador e possui o time menos valorizado da Copa, o exemplo dos países africanos é ilustrativo. 
Além do senso de pertencimento, o esporte é visto como meio de se alcançar algum prestígio. Em 1990, por exemplo, Camarões derrotou a Argentina.
É óbvio que a importância geopolítica do Catar hoje é outra mas, quando houve o anúncio em 2010 de que sediaria a Copa do Mundo de 2022, a Europa ainda importava o seu gás da Rússia e pouco se falava sobre a transição energética.
Circus Maximus: The Economic Gamble Behind Hosting the Olympics and the World Cup (“Circus Maximus: A Aposta Econômica por Trás de se Sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo”, em tradução livre), de Andrew Zimbalist retrata o “antes” e o “depois” da festa.
As cidades que sediam esses eventos atendem a uma série de exigências impostas pelos órgãos organizadores. Como recompensa, recebem parte dos direitos de transmissão, da venda de ingressos, dos licenciamentos e dos patrocínios. Mesmo quando tudo termina, esses locais tendem a se tornar pontos turísticos, provendo uma renda adicional ao longo dos anos.
Por outro lado, as relações entre autoridades e organizadores já não são mais as mesmas. Se há 40 anos o Comitê Olímpico Internacional (COI) ficava com 4% da receita gerada pelos direitos de transmissão, hoje esse percentual é de 70%.  
O caso da FIFA não é muito diferente. Apesar de patrocinar os custos para a Copa do Mundo, toda a infraestrutura é bancada localmente. Não por outro motivo, a escolha pelas cidades mais dispostas a gastar, ainda que às custas dos impostos que serão cobrados da população.
Estourar o orçamento original em até 10 vezes é praxe. Além disso, os “elefantes brancos” precisam ser mantidos, competindo com outras demandas importantes.  Isso explica porque governos democráticos se sentem menos propensos a lançarem as suas candidaturas no futuro.
A Copa do Mundo sediada pelo Catar é a mais cara de todos os tempos.
Levando-se em conta os aspectos econômicos, alguns elementos justificam as grandes somas que giram em torno do esporte mais popular do planeta: o uso inteligente dos dados e a profissionalização do futebol. 
Dito isso, os investimentos se concentram cada vez mais nos países ricos, considerando que o dinheiro de um punhado de clubes não é suficiente para reverter a pobreza, decorrente da falta de políticas públicas mais consistentes, nos lugares de onde saíam os jovens talentos de antes.  
Para qualquer um que já tenha visitado o Oriente Médio, não é incomum ver um time de garotos usando camisas de vários clubes, inclusive do Santos. O Catar, que se desenvolveu depois dos seus vizinhos do Golfo Pérsico, trouxe o espetáculo para os seus estádios de última geração, contando com os países que, com muita tradição no futebol, agora fazem fila para comprar o seu gás.
Nohad Harati
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