Bancos digitais resolveriam problema dos suíços do estrangeiro? – SWI swissinfo.ch em português
As elevadas taxas bancárias impostas aos suíços do estrangeiro são um dos um dos maiores problemas para essa comunidade. Recentemente, contudo, surgiram os chamados “neobancos”, que trazem algumas interessantes propostas.
Sou titular de um mestrado em idiomas e comércio internacional. Trabalhei durante oito anos como assistente pessoal do diretor-geral da Sociedade Suíça de Radiodifusão (SRG SSR). Sendo eu mesmo uma expatriada, consigo entender bem os suíços do estrangeiro.
“Fechei minha conta no banco Credit Suisse. Eles estão ficando loucos: uma taxa anual de 500 francos”. “Pago mensalmente 40 francos simplesmente porque vivo exterior. Muito obrigado, mas sem mim”.
Os comentários deixados pelos internautas no site da swissinfo.ch sobre taxas bancárias não são nada amáveis. E por uma boa razão. Encerramento forçado de contas, taxas de administração exorbitantes… Muitas suíças e suíços no estrangeiro se sentem maltratados pelas instituições bancárias tradicionais há anos.
Explicamos aqui as razões para as tarifas elevadas:
Determinadas a espanar a poeira de um mercado bancário suíço que adormeceu sobre os próprios louros, novas entidades surgiram. São os “neobancos”. Embora não sejam uma solução milagrosa, podem, entretanto, revelar-se mais adequadas às necessidades financeiras da diáspora suíça.
O termo “neobanco” designa uma nova geração de bancos digitais, muitas vezes 100% móveis e acessíveis a partir de um aplicativo de smartphone específico para cada usuário.
Independentemente do seu modelo de negócios, seja ele puramente digital ou mais tradicional, todos os bancos na Suíça são obrigados a cumprir os requisitos legais estabelecidos pela FINMA (Autoridade Suíça de Supervisão do Mercado Financeiro). Assim, os neobancos devem “ter capital e liquidez suficientes, estar organizados de modo a poder gerir os riscos e oferecer a garantia de uma gestão irrepreensível”, segundo o seu porta-voz, Vinzenz Mathys. Da mesma forma, os depósitos de seus clientes recebem garantias de até 100 mil francos por pessoa.
É igualmente importante especificar que há uma diferença terminológica entre o banco online e o neobanco. Um banco online está geralmente ligado a um banco tradicional existente. Proporciona ofertas em nuvem, mas com possibilidades de serviço muitas vezes equivalentes. Um neobanco, por sua vez, é uma entidade de pagamento que recebeu uma licença bancária ou fintechLink externo (refere-se à integração de tecnologia em ofertas de empresas de serviços financeiros) emitida pela FINMA e que oferece serviços bancários básicos.
Esta é também a razão pela qual as taxas cobradas pelos neobancos são muito mais baixas. Isso é confirmado pela Federação Suíça de Bancos (SBA): “É verdade que muitos bancos digitais se diferenciam com modelos de taxas transparentes e, em média, mais baixas. Em contrapartida, eles normalmente fornecem apenas alguns serviços simples, tais como pagamentos ou uma visão geral básica da conta. Muitos deles não oferecem opções de crédito ou hipoteca. Também não têm agências, respectivamente filiais, e às vezes não têm atendentes reais, mas apenas um “chatbot”, ou seja, uma janela de conversação animada por algoritmos”.
De mais disso, os neobancos são essencialmente virtuais. Todas as transações são feitas através de seu aplicativo no smartphone, o que constitui um estorvo para as pessoas que se sentem menos à vontade com as novas tecnologias. Devido à sua estrutura puramente digital, há também a questão de possíveis ataques de hackers ou bugs que podem tornar o aplicativo indisponível.
Tal como acontece com os bancos tradicionais, alguns países estão excluídos dos seus serviços por razões legais e jurídicas. Isso porque, para poderem operar em outros países, os bancos devem ter uma licença e cumprir as regulamentações ali vigentes, o que implica riscos e custos adicionais. Este é particularmente o caso dos Estados Unidos, o terceiro país do mundo que mais acolhe suíços. Vários neobancos também limitam suas atividades a alguns países, principalmente na zona do euro.
No entanto, há ainda muitas vantagens. O mais óbvio é o fato de não ter de se deslocar pessoalmente para abrir uma conta. A rapidez de execução de pagamentos e transferências, as taxas de administração muito baixas, as taxas de câmbio geralmente vantajosas e as contas em diversas divisas são todos pontos susceptíveis de atrair a diáspora suíça.
Na Suíça, entre os bancos online, podemos citar o CSX do Credit Suisse, o Zak do Banque Cler e o Neon, que trabalha em colaboração com o banco hipotecário de Lenzburg. Esses citados não se destinam, a priori, a cidadãos suíços que vivem no exterior, uma vez que é preciso residir na Suíça para subscrever uma conta.
No entanto, algumas pessoas encontraram uma forma de contornar essas exigências, mantendo seu endereço oficial na Suíça, por exemplo, com um membro da família a quem outorgam uma procuração.
Vários neobancos estrangeiros estão ativos no mercado suíço e acessíveis a não residentes. Os mais conhecidos são o N26, proveniente da Alemanha, o Wise (anteriormente Transferwise) e o Revolut, ambos do Reino Unido.
No entanto, a FINMA adverte: “Os clientes suíços devem estar cientes, quando contratam tais serviços a partir do exterior, que os prestadores não são supervisionados pela FINMA”. Isso também significa que, em caso de disputa judicial, o titular da conta deve defender-se no exterior, onde o banco tem sua sede, segundo Vinzenz Mathys.
Quanto aos neo-bancos suíços, os mais indicados para suíços no exterior parecem ser o Dukascopy, o FlowBank, o Swissquote, o Yapeal e o Yuh.
O Dukascopy Bank S.A. está sediado em Meyrin. De acordo com a autorização da FINMA, é uma instituição especializada em transações em bolsa de valores, gestão de patrimônio e gestão de ativos. Oferece contas em moedas diversas a não-residentes na Suíça.
O FlowBank SA é classificado pela FINMA como um banco sob domínio estrangeiro. É uma “plataforma de trading”, conforme seu site na internet. Oferece também acesso a uma conta corrente.
O Swissquote cai na mesma categoria do que o Dukascopy. Sua sede fica em Gland. E sua “principal atividade está intimamente relacionada ao trading”, mas oferece outros serviços bancários.
O Yapeal AG está sediado em Zurique. Em 2020, tornou-se a primeira entidade suíça a receber uma licença bancária de fintech. Seus serviços são particularmente dirigidos aos suíços no exterior e aos que trabalham além da fronteira.
Leia aqui nosso artigo completo sobre o Yapeal:
O Yuh nasceu de uma colaboração entre o PostFinance e o Swissquote. Ele “opera sob a licença bancária do Swissquote Bank S.A. e está, portanto, sujeito às normas da FINMA”, pode-se ler em seu site.
As prestações:
Segundo Nicole Töpperwien, diretora da Soliswiss (Cooperativa de Solidariedade para pessoas suíças no exterior), “para achar uma boa solução, é importante avaliar com precisão suas próprias necessidades”. Ela recomenda que se façam as seguintes perguntas: “Preciso de um cartão de crédito, quero fazer pagamentos ou, sobretudo, poupar ou investir dinheiro, e o que acontece com a minha hipoteca, para onde deve ir o AVS, meu seguro de velhice? Dependendo do país e das necessidades, diferentes opções entram em jogo”.
Se a pessoa ainda não se mudou para o exterior, a Soliswiss a aconselha a entrar em contato o mais rápido possível com os mais diferentes bancos. Apesar disso, “ainda há casos específicos em que não é possível encontrar uma solução satisfatória”, diz Nicole Töpperwien. Por conseguinte, a solução que resta para as pessoas em questão é saber lidar ou se adaptar rapidamente ao novo sistema.
Adaptação: Karleno Bocarro
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