Pole Position: O que são as grades e tinta colorida que os carros da F1 usam nos testes? – UOL Esporte
Os testes coletivos da pré-temporada da Fórmula 1 começaram nesta quarta-feira e vão até sexta-feira, no circuito do Bahrein, sempre das 4h às 13h, pelo horário de Brasília. Serão três dias em que veremos muitos carros com um visual um tanto diferente, ora cheios de grades, ora com pinturas fluorescentes. São duas maneiras de os engenheiros visualizarem algo fundamental para que um carro de F1 seja rápido: o fluxo aerodinâmico.
Mas por que isso é tão importante? Um carro de F1 é bem diferente de um carro de rua, e isso acontece porque eles são construídos para finalidades diferentes. Um precisa ser o mais veloz possível nos circuitos, e o outro transporta pessoas de A a B. Então sai o conforto e entram formas que vão permitir que os pilotos ultrapassem 350km/h nas retas e 300km/h em determinadas curvas.
Essas formas respeitam o regulamento, é claro, e buscam maximizar o fluxo de ar, procurando um equilíbrio entre gerar menos resistência ao ar e garantir a estabilidade para andar em alta velocidade. Em alguns pontos do carro, os engenheiros querem que o ar vá da superfície do carro para fora (porque esse ar é turbulento, ‘mexido’) e em outros pontos eles querem que o ar vá seguindo grudado na superfície para alimentar determinadas partes.
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E as pinturas fluorescentes e as tais grades sevem para calcular isso.
Os testes de pista da F1 são muito restritos atualmente por conta dos custos, então o carro é desenvolvido em computadores e túneis de vento (de escala de até 60% do tamanho do carro real). Por isso, o primeiro passo de um teste é determinar se os resultados obtidos nestas simulações correspondem à realidade.
Uma das maneiras de fazer esse cálculo é usando uma série de sensores dispostos de uma maneira que parecem formar uma grade. Eles vão medir a pressão do ar em cada um desses pontos para mostrar o que está acontecendo com o fluxo depois que ele passa pelas estruturas do carro.
Então, o lugar onde essas “grades” estão colocadas e seu formato dão algumas dicas do que está sendo medido. Os lugares mais comuns são atrás dos pneus dianteiros e traseiros. Os pneus interferem bastante no fluxo de ar, então as superfícies dos carros buscam maneiras de driblá-los, enquanto o regulamento tenta evitar que esse “drible” seja feito jogando o ar para fora, o que gera turbulência e é ruim para as disputas na pista.
Vale lembrar que um carro de F1 normalmente já carrega centenas de sensores. Nos testes, quando as equipes não se importam tanto com o peso, eles geralmente já são mais de 300 sem contar as grades. Mas eles ficam na superfície do carro ou em pequenas antenas. Quando se usa as grades, a ideia é medir os fluxos de ar em uma área maior.
Mesmo esses sensores que estão normalmente nos carros não conseguem medir o fluxo de ar em todas as superfícies. Então, também para entender se tudo aquilo que os engenheiros viram nas simulações corresponde à realidade, eles precisam entender o que está acontecendo com o fluxo de ar não só depois que ele toca o carro, mas também na superfície em si.
E, para isso, os engenheiros usam uma mistura de parafina ou outro óleo leve com pigmento colorido. Essa mistura é pintada ou aplicada com spray na área que está sendo verificada. Com o carro em movimento, a parafina vai evaporando e fica apenas o pigmento, seguindo a mesma ‘trilha’ do ar.
O nome dessa mistura é flow vis, que vem de “flow visualisation” (visualização de fluxo, em português).
É claro que não dá para adivinhar exatamente o que os engenheiros esperam dos “desenhos” formados pelo flow vis, mas é possível ter algumas dicas. Eles estão tentando entender se existe separação de fluxo de ar, ou seja, se alguma coisa vai o fluxo se desprender da superfície do carro.
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Então, se o carro voltar para os boxes com linhas uniformes e contínuas, é um bom sinal. Concentração muito grande de pigmento em determinados pontos e “buracos” na coloração são bons indicativos geralmente. E a paranoia das equipes é tão grande que alguns estão usando tintas que só aparecem com determinado tipo de luz, para não dar nenhuma dica sobre seu carro.
Esses dois tipos de testes são dois sinais muito fortes de que os pilotos ainda não estão tentando tirar tudo do carro. É o primeiro passo de um teste: encher o carro de maneiras de calcular o fluxo aerodinâmico para entender se os resultados da fábrica batem com a pista. Depois, eles seguem com sua lista de tarefas, que incluem testar a vida útil de alguns elementos, se os sensores de combustível estão bem ajustados (sim, é normal que o carro tenha pane seca de propósito em teste), e outros parâmetros para só então começar a estudar os melhores acertos e ir em busca de performance.
Após os testes, a F1 segue no Bahrein, onde abre a temporada 2024 dia 2 de março, um sábado.
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
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